segunda-feira, 27 de maio de 2013

Caruanas do Pará

Aqui no Brasil temos uma enorme quantidade de tribos indígenas, uma verdadeira pluralidade, essa pluralidade é percebida principalmente na geografia brasileira, tendo alguns lugares nos quais há pluralidade dentro da pluralidade, que é o caso principalmente da região Norte do Brasil, por causa da imensa floresta Amazônica, que ajuda no modo de viver dos índios, então não é a toa que a lenda de criação indígena que resolvemos contar vem de lá, abordaremos aqui como o mundo se criou segundo a tradição Caruana na Ilha de Marajó.


Para entendermos a questão dessa lenda, desse mito de criação, precisamos entender alguns outros conceitos que permeiam esse cenário. A lenda de criação do mundo Caruana, é remanesceste de antigas tribos indígenas que viviam na Ilha de Marajó, essas tribos acreditavam na existência de seres espirituais que viviam debaixo das águas, e esses seres, por sua vez, são chamados de Caruanas, eles são “naturalmente invisíveis e são os companheiros do fundo, que é tradução de Caruana”, o autor dessa frase é de Eduardo Galvão, antropólogo que se dedicou ao estudo dessa crença cabocla, ele junto com o Charles Wagley, fizeram a maior pesquisa em relação a pajelança cabocla, a pajelança cabocla por sua vez, é o xamanismo indígena da Ilha de Marajó, não muito considerada como religião, a pajelança se baseia em rituais de cura, e esses rituais de cura são executados por meio dos Pajés da Ilha, e quando há uma “sessão de cura”, os Pajés incorporam os Caruanas que tem o dom e a missão de curar os enfermos, a pajelança cabocla é uma religiosidade genuinamente Amazônica , e que agora tem muita influência da Pajé Zeneida Lima, que além de ter escrito livros sobre a história e doutrina da pajelança cabocla Caruana,também é dona de uma ONG que preserva esse patrimônio religioso e cultural brasileiro,mas ainda sim, a pajelança sofre muito preconceito no Norte, e também sofre indiretamente com o preconceito sofrido da Umbanda, que é muito atuante no Sudoeste e que “incorporou” alguns elementos caboclos.


Contam que no inicio do mundo, somente água existia aqui, o mundo por si só era uma grande bola de água inabitada, mas atentamente observado por Auí, um ser delicado e transparente, que tinha a missão que liderar o seu povo, mas havia um problema, ele ainda não tinha povo para se liderar, ainda, pois a partir do barro e da lama, que ficavam na profundeza das águas, surgiu o Girador, outro ser fantástico, que como Auí, tinha uma missão, ele havia que construir sete cidades sobre as águas para servir a Auí (uma delas, aliás, é a própria Ilha de Marajó) e o Girador começou o seu trabalho, e enquanto isso, outros seres saíram da água, constituindo o povo de Auí, e quando o Girador terminou o seu trabalho, e todos os seres estavam vivendo sobres harmonia, Auí, guiado por sua imensa curiosidade, tocou o fundo das águas do mundo, e ele, ao encostar nos sagrados materiais que o Girador foi criado, o barro e a lama, ele causou uma desarmonia e um desequilíbrio na terra, que submergiram as sete cidades de Auí, então, Auí,Girador e o povo místico de Auí, foram transformados em Caruanas, e assim, tiveram que ser auxiliadores dos seres humanos a partir daí, por causa da desordem de Auí, as partes sólidas que estavam no fundo do mar, subiram e causaram dois acontecimentos, o primeiro foi de libertar a energia espiritual de Anhaga(energia esta, que segundo o folclore Caruana, representa os males causados a natureza), e a segunda consequência, foi a subida das partes sólidas no fundo do mar, criando os continentes atuais, e as sete cidades místicas de Auí subiram, criando “Patu-Anu”, que é o atual mundo místico dos Caruanas, é um local espiritual onde residem os Caruanas, e onde eles se preparam para encarnarem nos Pajés, toda a espiritualidade desse local se deu a partir do Girador, que tem vibrações energéticas absurdas em “Patu-Anu”, e é por isso que lá é o local que os Caruanas passam por vários estágios até serem aptos a chegarem a Terra. Hoje dois seres fantásticos agem para que se haja a harmonia entre “Patu-Anu” e a Terra, um deles é o” Gavião de olhos brilhantes e bico de Marfim”, que comanda de forma rigorosa e entrada e saída dos Caruanas em nosso mundo, e o outro é o “ Peixe das sete asas”, este por sua vez, também faz uma missão importante, ele transmite a troca de energias entre o Pajé e as águas místicas do “Patu-Anu”, mas para contar essa história, percebesse um erro, “Como se todas as sete cidades de Auí subiram, a Ilha de Marajó ainda está aqui?”, a resposta é simples, a Ilha de Marajó ficou na Terra, por causa de um motivo, para que as energias espirituais dos Caruanas continuassem aqui.


E assim o Pajé caboclo canta sua região: “O Pará dos encantos:Das riquezas minerais; da fauna e da flora imensamente ricas. O Pará dos búfalos, dos boiadeiros, dos Igarapés e da alegria. O Pará místico, das ervas encantadas, dos feitiços e da magia Caruana que continuam a ecoar nas tabas indígenas do meu Brasil, Salve os Caruanas!”.

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